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Software vanilla

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Software vanilla (em português: baunilha), nos contextos da ciência da computação e da tecnologia, é a versão original, mais simples, básica, não modificada e sem recursos adicionais de um produto de software,[1] distribuída por seus desenvolvedores,[2] em que as configurações ou implementações carecem de personalização.[3]

O termo "vanilla" deriva do sabor simples e sem adornos do sorvete de baunilha, conotação que remonta à sua popularidade como base universal em sobremesas.[4][5] Na computação, o termo surgiu a partir da década de 1980, popularizado em sistemas e interfaces de usuário para descrever um estado padrão, ou básico. Por exemplo, o sistema BookMaster da IBM referia-se à sua configuração mais simples como "vanilla" e à sua contraparte mais complexa como "mocha", para indicar recursos adicionais.[6]

O Jargon File, influente glossário de gíria hacker mantido por Eric S. Raymond, define "vanilla" neste contexto associando o termo a estados "comuns" ou "padrão", diferentes da configuração padrão.[7] A utilização do termo se expandiu durante a década de 1990, passando a considerar sistemas Unix, em que um kernel "vanilla" significava um núcleo não modificado diretamente de sua fonte original.[8] A cultura dos jogos eletrônicos também adotou o termo "versão vanilla", que passou a ser sinônimo de jogos não modificados, ou seja, em que não existem complementos ou mods desenvolvidos pelos jogadores.[9]

Planejamento de recursos empresariais

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Os sistemas ERP "vanilla" são frequentemente implantados para padronizar processos de negócio em todas as organizações, minimizando os riscos associados à personalização. Embora tais implementações estejam em estreita sintonia com as melhores práticas estabelecidas pelos fornecedores, elas podem limitar a flexibilidade, criando o chamado paradoxo do sistema comum.[10][11]

Sistemas de governo eletrônico

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O software "vanilla" é essencial para iniciativas de governo eletrônico, já que representa um papel importante na interoperabilidade de dados entre diferentes agências. No entanto, embora tais sistemas facilitem a padronização, estudos têm destacado os desafios de adaptação das soluções padrão às necessidades institucionais específicas.[12]

Práticas de desenvolvimento de software

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No âmbito da programação, "vanilla" descreve estruturas e ferramentas usadas sem extensões ou alterações, o que pode simplificar os processos de codificação e melhorar a manutenibilidade.[2]

Vantagens e desvantagens

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Utilizar software sem modificação, conforme ofertado por seus desenvolvedores, é uma prática comum, além de geralmente também ser o padrão entre usuários que não possuem as habilidades técnicas necessárias para alterá-lo. Uma vantagem do software vanilla, quando bem mantido por seus desenvolvedores, é a garantia de recebimento de atualizações regulares, que podem ser correções críticas de segurança. Como resultado, a bifurcação em uma nova versão pode acabar desconectando-a de atualizações futuras, or tornar a integração destas atualizações mais difícil.[13]

Ao optar por software vanilla, as organizações se beneficiam de custos mais baixos e processos de manutenção mais simples, embora o trade-off possa resultar em uma redução na flexibilidade e nas opções de customização.[14] Em ambientes empresariais e de negócios a utilização de software vanilla também ocorre como fruto de acordos de direitos autorais e de licenciamento, que podem proibir modificações e adulterações, como nos casos do Microsoft Windows ou do Microsoft Access.[15] Uma desvantagem é que essa situação cria um público cativo para alguns softwares, resultando em indivíduos ou organizações se tornando dependente da manutenção do software e de seus serviços relacionados por terceiros, podendo resultar em desempenho abaixo do ideal, problemas de privacidade e propensão à obsolescência planejada.[16]

  1. HIMSS (2013). HIMSS Dictionary of Healthcare Information Technology Terms, Acronyms and Organizations, Third Edition (em inglês). [S.l.]: HIMSS. p. 140. ISBN 9781938904295. Consultado em 2 de outubro de 2025 
  2. a b Bhargav, Nikhil; Simic, Milos (12 de outubro de 2022). «Vanilla Software and Programming». Baeldung. Consultado em 28 de novembro de 2024. Cópia arquivada em 28 de novembro de 2024 
  3. Clohessy, Trevor; Acton, Thomas, (2013) "Enterprise Resource Planning for e-Government in the Cloud." Presented at the 2nd International Conference of Informatics and Management Sciences, University of Limerick, pp. 467 – 469.
  4. Fortini, Amanda (10 de agosto de 2005). «The White Stuff». Slate (em inglês). ISSN 1091-2339. Consultado em 28 de novembro de 2024 
  5. «How Did Vanilla Become a Byword for Blandness? (Published 2023)». The New York Times Style Magazine (em inglês). 8 de setembro de 2023. Consultado em 1 de outubro de 2025 
  6. «B2H User's Guide (HTML 3 version)». public.dhe.ibm.com. Consultado em 1 de outubro de 2025. Cópia arquivada em 24 de dezembro de 2021 
  7. Raymond, Eric. 2003. “Vanilla”. The Jargon File, Version 4.4.7. December 29, 2003.
  8. Smietanowski, Stefan (10 de outubro de 2005). «Linux-Kernel Archive: Re: What is the vanilla kernel?». The Linux-Kernel Archives. Bloomington: Indiana University. Consultado em 1 de outubro de 2025 
  9. Mubarak (13 de agosto de 2024). «What Does "Vanilla" Mean in Gaming? Understanding the Term for Unmodified Game Versions». Retro News. Cópia arquivada em 28 de novembro de 2024 
  10. Fosser, Erik; Leister, Ole Henrik; Moe, Carl Erik; Newman, Mike (2008). «Organisations and Vanilla Software: What Do We Know About ERP Systems and Competitive Advantage?». European Conference on Information Systems Proceedings (132) 
  11. Lykke Nielsen, Marianne; Newman, Mike (2008). «E-government and vanilla software: The common system paradox?» (PDF). Aalborg Universitet. Cópia arquivada (PDF) em 20 de abril de 2024 
  12. Lykke Nielsen, Marianne; Newman, Mike. (2008). "E-government and vanilla software: The common system paradox?" Denmark: Aalborg University.
  13. Robles, Gregorio; González-Barahona, Jesús M. (2012), Hammouda, Imed; Lundell, Björn; Mikkonen, Tommi; Scacchi, Walt, eds., «A Comprehensive Study of Software Forks: Dates, Reasons and Outcomes», ISBN 978-3-642-33441-2, Berlin: Springer, Open Source Systems: Long-Term Sustainability, 378, pp. 1 – 14, doi:10.1007/978-3-642-33442-9_1, hdl:10115/11482Acessível livremente, consultado em 10 de julho de 2025 
  14. Kimberling, Eric (11 de maio de 2023). «The Pros and Cons of Vanilla vs. Customized ERP Software for Your Digital Transformation». LinkedIn (em inglês). Consultado em 28 de novembro de 2024. Cópia arquivada em 28 de novembro de 2024 
  15. «Use of Microsoft copyrighted content». Microsoft.com. Microsoft. Consultado em 9 de junho de 2025 
  16. Fish, Adam (6 de maio de 2014). «Using Microsoft products may be unethical for universities». The Conversation. Consultado em 9 de julho de 2025